
Por Dr. Carlos Gilbert Conte Filho
Entre os dias 21 de maio e 31 de maio de 2018, na denominada greve dos caminhoneiros ou do diesel, o Brasil parou. Durante 10 dias praticamente não havia combustíveis para abastecimentos de veículos, havia filas de automóveis para abastecimento nos poucos postos de combustíveis que disponibilizavam dos derivados do petróleo e álcool, os alimentos foram minguando nas prateleiras dos supermercados e não se via movimento no comércio. Paralelamente, a população apoiava o movimento grevista. Foi um ato de bravura por parte dos caminhoneiros ao defenderem seus interesses contra o então governo Temer e a política de preços praticada pela Petrobras de reajustes acompanhando a oscilação do preço do barril de petróleo no mercado internacional. Mas qual é o impacto desse movimento na economia?
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de início, reduziu a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 0,3%. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos na economia em um determinando período de tempo. Com a greve de maio. a expectativa de crescimento do PIB em 2018, que era de 2,9% no início do ano, foi reduzida para 2,2% (em uma projeção bastante otimista). Alguns economistas já cogitam que o PIB de 2018 pode ficar em torno dos 2%. Ou seja, uma revisão de quase 1% em relação as projeções iniciais. E tal expectativa revista para baixo tem a colaboração da greve de maio. Durante dez dias o país não produziu, vendeu ou exportou. É inegável que algum impacto haverá, principalmente se tratando de uma economia que vinha apenas ensaiando a retomada do crescimento. O Brasil vem de três anos de queda do PIB. Parar o País por 10 dias é desastroso para voltarmos a crescer.Apenas nos primeiros oito dias dos protestos, é estimado que cerca de US$ 1 bilhão foi perdido em exportações, principalmente de produtos manufaturados e alimentos. Além disso, mais de 100 milhões de aves foram sacrificadas, e 300 milhões de litros de leite foram jogados fora.
Além da queda do PIB, outro fantasma que assolará a economia brasileira até o fim do mandato de Michel Temer (pelo menos), é a possibilidade de outras categorias de trabalhadores tomarem a greve dos caminhoneiros como exemplo. Os petroleiros ensaiaram uma greve de 72 horas nas principais refinarias do País – ato repreendido pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) que estipulou multa de R$ 500 mil por dia de paralização para o sindicato da categoria. Por sua vez, o sindicato dos petroleiros alega que a greve em nada tem ligação com o movimento dos caminhoneiros, mas sim em defesa da Petrobras, contra a atual política de preços e a privatização da empresa. Com uma atividade econômica morna e com o desemprego elevado, atos como este tenderão a desestimular os empresários a voltarem a investir. A perturbação causada na economia resulta em reflexos na confiança de empresários e das famílias. Tal cenário pode (e deve) contribuir para elevar ainda mais o nível de desemprego no Brasil. Pelos números do IBGE, atualmente, há 13,4 milhões de desempregados no Brasil, o que equivale a uma taxa de desocupação da população economicamente ativa (PEA) de 12,9%. A taxa de desemprego projetada para o País ao fim de 2018 era de 10,8%, ou cerca de 11,2 milhões de pessoas sem trabalho, mas essa estimativa deve ser revista para cima.
Por fim, mas não menos importante, temos que analisar as contas públicas.Apenas para garantir uma redução de R$ 0,30 no preço do diesel nas refinarias (de um total de R$ 0,46 de desconto), o governo se dispôsatirar do bolso R$ 9,5 bilhões até dezembro (ou melhor, do bolso do contribuinte).Mesmo com o acordo firmado com os caminhoneiros, a equipe econômica afirma que a meta de economia para o ano está mantida. O objetivo do governo é registrar um resultado negativo de R$ 159 bilhões no ano, considerando a diferença entre receitas e despesas. Ora, com o desfecho da greve, três resultados podem surgir:1) ou o governo terá que admitir um aumento do déficit público em mais R$ 9,5bi; 2) ou irá reduzir o gasto em outras áreas; ou3) o governo elevará impostos em outros bens e serviços para cobrir o déficit que resultou do acordo. Analisemos: assumir um déficit público mais elevado hoje significa maiores impostos no futuro sem desconsiderar uma elevação da taxa Selic (o que é péssimo para um País que pretende retomar o crescimento). Se a segunda alternativa for o caminho escolhido, as áreas contempladas obrigatoriamente serão educação e saúde. Sabemos, contudo, que tais serviços públicos estão longe de serem um exemplo de funcionamento no Brasil. Reduzir ainda mais o gasto publico em tais áreas cobrará o preço no futuro, principalmente para um País que planeja crescimento sustentável. Elevar impostos de imediato é igualmente desastroso para a retomada do crescimento e estrangula ainda mais a população que já se depara com uma carga tributária elevada e está farta de tantos impostos.
Em suma, qualquer que seja a escolha do governo, está será maléfica para a sociedade como um todo. Portanto, é incompreensível, ao meu ver, tamanho apoio popular a greve dos caminhoneiros. Um País que almeja voltar a crescer, a gerar empregos e diminuir a concentração de renda não pode ver uma paralização – que engessa o País por 10 dias – como algo positivo. Há outras maneiras de se barganhar melhores condições de vida e trabalho: as eleições de outubro é uma alternativa menos traumática.
Fonte: SINFAC/RS