Com a chegada da vacina contra a covid-19 e a esperança na recuperação da atividade, os investidores brasileiros se mostram otimistas com a economia e os mercados neste ano, em taxas superiores à média global e à da América Latina. Essa é a percepção capturada no “UBS Investor Sentiment”, sondagem que o grupo suíço faz periodicamente.
Nesta última coleta foram ouvidos mais de 4 mil investidores em 14 mercados entre o fim de dezembro e o começo de janeiro. No Brasil, a consulta incluiu 150 investidores e 50 empresários com pelo menos US$ 1 milhão em patrimônio financeiro ou receitas anuais.
Uma fatia de 75% dos brasileiros ouvidos disseram estar otimistas com a economia brasileira no curto prazo por causa da vacina, em comparação a 69% da sondagem feita três meses antes. No longo prazo, a parcela sobe para 85%. Na América Latina, 65% manifestaram uma visão positiva para a economia. Em linha com os resultados globais, 61% dos entrevistados da região mostram também ter uma visão positiva para o mercado acionário.
Já na média global, 60% dos entrevistados manifestaram essa visão favorável para a economia nos próximos 12 meses — a parcela era de 55% na consulta anterior. Uma porcentagem de 63% disse não acreditar, contudo, que a vida voltará ao normal nos próximos seis meses. Neste grupo, só 48% revelaram estar otimistas com a economia. Entre aqueles que esperam a volta à normalidade em seis meses, o otimismo é muito maior, 80%.
Entre os principais pontos citados para o sentimento positivo do brasileiro estiveram os progressos para a vacinação (80%), o boom do agronegócio (54%) e potenciais reformas microeconômicas (53%).
“Apesar de algumas manchetes enervantes neste ano, concordamos com a percepção que os investidores brasileiros têm sobre o futuro”, diz o chefe de investimentos para América Latina e emergentes do UBS, Alejo Czerwonko. Segundo o especialista, o cenário para o mercado financeiro e econômico global permanece benigno, com a política monetária destinada a permanecer muito favorável e a fiscal acompanhando a recuperação. Ao mesmo tempo, uma diversidade de vacinas ficando disponíveis permite que as economias aprofundem a retomada em 2021.
A pesquisa identificou, porém, como fontes de preocupação um eventual atraso na imunização (75%), as taxas de desemprego (58%) e o aumento da dívida em relação ao PIB (54%). O recorte de Brasil na pesquisa global do UBS foi antecipados para o Valor.
Sem bolha
As ações globais próximas de seus níveis recordes, apesar das crescentes preocupações com a disseminação de novas variantes do coronavírus, despertam preocupações sobre bolhas, mas não especificamente nas companhias já listadas, diz Czerwonko.
“Vemos várias pré-condições para bolhas, incluindo custos de financiamento recorde, novos participantes entrando nos mercados e baixos retornos prospectivos sobre ativos tradicionais que alimentam a especulação. Mas, em nossa opinião, embora o bitcoin pareça ser uma bolha e os mercados de IPO e ‘spac’ sejam os mais quentes em décadas, o mercado de ações mais amplo não está em uma bolha.”
Ele cita que grande parte do mercado apresenta “valuations” abaixo das máximas históricas. Ao se excluir tecnologia e consumo discricionário do MSCI All Country World, o índice é negociado com uma relação preço/lucro (P/L, que dá uma ideia do prazo de retorno do investimento) de 17,6 vezes, abaixo do topo de 19,1 vezes. O prêmio de risco de ações, em 6%, está acima da média de 4% desde 1998, indicando que ações permanecem atrativas em relação a títulos de dívida. E a alavancagem das empresas permanece contida até aqui, acrescenta o executivo.
O executivo diz esperar que o S&P 500 termine 2021 em torno de 4.000 pontos. “Vemos melhores perspectivas para partes do mercado com exposição cíclica, incluindo ações de mercados emergentes”, afirma Czerwonko.
Na sondagem com os investidores brasileiros, setores em transformação tecnológica (80%), investimentos sustentáveis (75%) e proteções em momentos de baixa do mercado (75%) aparecem no topo das preferências. A diversificação global também está entre as prioridades, com 86% dos investidores com intenção de aumentar a fatia alocada no exterior nos próximos 12 a 24 meses. Uma parcela de 67% dos entrevistados diz já ter conta no exterior.
Quando se trata de investimento sustentável, o engajamento vem de diferentes formas, com 65% citando o consumo pessoal, e 57% preferindo investimentos financeiros com esse viés. Parcela idêntica diz estar envolvida em causas sustentáveis como voluntários.
Investimentos sustentáveis
De qualquer forma, 61% dos entrevistados pelo estudo disseram ter alocação em investimentos sustentáveis, nicho que tem se tornado uma parte importante dos portfólios, com fatia igual ou superior a 30%.
A chave para investir em ativos de empresas com tal compromisso depende da identificação de novas oportunidades para 54% dos investidores; do aumento da diversificação geral (50%) e dos impactos da covid-19 (49%).
“A crise do covid-19 ressaltou a relevância das considerações ESG para o desempenho das empresas e dos retornos dos investimentos, e esperamos que isso continue a influenciar iniciativas corporativas e de investidores à frente”, diz Czerwonko. Para o executivo, os brasileiros devem considerar os benefícios de uma carteira diversificada mesmo naqueles investimentos com o viés da sustentabilidade.
Na América Latina como um todo, 70% dos pesquisados disseram acreditar que os investimentos sustentáveis entregarão melhores retornos do que os tradicionais, o percentual mais alto globalmente. Entre os brasileiros, há receios de baixa rentabilidade.
O UBS também ouviu empresários, com 82% mostrando confiança em seus negócios nos próximos 12 meses — na sondagem anterior, a parcela era de 70%. As notícias sobre a vacina (70%), as políticas monetárias encorajando investimentos (38%) e o impulso nos últimos anos (45%) foram os principais fatores listados.
Os empresários também veem potencial no foco da sustentabilidade nos próximos três anos, com o engajamento do cliente (84%), receitas (78%) e o engajamento dos empregados (62%).